Dante Vitale
Você não entende o que é desejo…
Até olhar para algo — ou alguém — e saber, com absoluta certeza, que precisa possuir.
Não por amor.
Não por ternura.
Mas por obsessão.
O tipo de desejo que corrói. Que queima. Que consome os pensamentos até não sobrar mais nada além da imagem daquela pessoa estampada nos seus olhos, mesmo quando você fecha eles.
Meu nome é Dante Vitale.
E eu sou o tipo de homem que destrói tudo que toca… só para ver se resiste.
Ela era só uma imagem numa tela.
A primeira vez que a vi, nem sabia o nome dela. Estava assistindo uma gravação de uma festa qualquer em Florença. Um jantar beneficente, cheio de gente fútil, risadas falsas e máscaras de ouro. Eu nem lembro quem me mandou aquele vídeo. Era um aliado querendo que eu visse outro homem na filmagem. Um político. Mas eu não vi ninguém.
Só vi ela.
A câmera passou por ela num plano rápido, mas o suficiente pra travar meu mundo.
Aurora Giordani.
Vestido azul claro, cabelo preso com algumas mechas soltas, rindo como se a vida ainda fizesse sentido.
Naquele instante, a obsessão nasceu.
E eu nunca mais consegui apagá-la da minha mente.
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Mandei investigar.
Nome, idade, família, círculo social, rotina, histórico médico. Tudo.
Filha única. Dezoito anos. Estudante de arquitetura. Um futuro promissor nas mãos… mas um império familiar ruindo pelas rachaduras da mentira.
O pai, Alessandro, era dono de uma empresa de exportação que estava em decadência há anos. Dívidas ocultas, investidores sumindo, processos judiciais prestes a explodir. Mas ele era orgulhoso demais pra admitir falência.
A mãe, Luciana, vivia de aparências. Uma socialite que ainda circulava entre os ricos, tentando fingir que o império da família ainda existia.
E Aurora…
Ela era a única coisa verdadeira naquele mundo podre.
Educada, comportada, ingênua. O tipo de garota que ainda acreditava em bondade.
Justo o tipo que gosto de arrancar da luz.
Porque ver alguém que brilha sendo apagada lentamente…
É mais bonito que qualquer obra de arte.
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Planejei com calma.
Primeiro, mandei meu contador entrar disfarçado na empresa do pai. Começamos a cavar buracos. Depois, comprei duas das dívidas mais pesadas da empresa usando nomes de fachada. Em poucos meses, o cerco começou a se fechar.
Criei uma cadeia de sabotagem silenciosa. Investidores sumindo, negócios desmoronando, portas se fechando. Quando ele percebeu, estava com a corda no pescoço.
Foi aí que fiz minha jogada final.
Apareci como um “investidor anônimo” oferecendo um acordo vantajoso. Tudo o que Alessandro precisava fazer era me dar acesso a alguns ativos… e assinar um contrato de exclusividade. Ele não leu as cláusulas ocultas. Ninguém nunca lê. Principalmente quem está desesperado.
Em seis meses, ele perdeu tudo.
A casa, a empresa, os carros, as conexões.
E a filha.
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Eu sabia.
Sabia que, uma hora, ele ia cometer o erro que todo homem com orgulho e uma filha bonita comete: vendê-la.
E quando isso aconteceu…
Quando ele apareceu como nome secreto num dos leilões de Paolo Moretti, eu soube que tinha vencido.
Paolo é um verme nojento. Mas útil. Ele organiza leilões subterrâneos há décadas. Mulheres, adolescentes, virgens, ex-esposas de magnatas… tudo tem preço.
Eu o chamei e disse:
— Vai ter uma menina nova no catálogo. Chama-se Aurora Giordani.
— Nunca ouvi falar.
— Você vai ouvir.
Dei instruções claras:
Ela é minha.
Use qualquer nome. Finja vender pra qualquer um. Mas no fim, ela vem pra mim.
Paolo aceitou, como sempre aceita quando o dinheiro fala mais alto que a vergonha.
— Mas ela é novinha, Dom…
— Melhor ainda.
— E se ela resistir?
— Quebramos com calma.
Ela foi colocada no leilão como o lote onze. Virgem. Rara. Intocada. Vendida como se fosse uma bolsa de luxo.
Fiquei esperando o sinal de que a entrega tinha sido feita.
Mas ele nunca veio.
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Ela fugiu.
Paolo me ligou dois dias depois, gaguejando, tremendo, mijando nas calças de tanto medo.
— Ela escapou! O carro capotou, o pneu estourou, ela correu! Sumiu no mato, como um fantasma, Dom Vitale!
Eu queria enfiar a mão na tela do tablet e arrancar a garganta dele ali mesmo.
Como se uma menina assustada fosse capaz de burlar o destino que eu havia traçado pra ela.
Como se o universo estivesse me dizendo não.
Mas eu não aceito não.
Ela é minha.
E agora está em algum lugar... com alguém.
Essa parte me tira o sono.
Alguém pode estar olhando pra ela agora. Tocando nela. Ouvindo sua respiração enquanto dorme. Talvez até se ache o salvador dela.
E isso me enlouquece.
Porque ninguém... ninguém... vai salvá-la de mim.
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Ela não sabe meu rosto. Não sabe meu nome.
Mas eu conheço cada centímetro dela.
Já imaginei todas as formas de quebrar sua resistência.
Primeiro, ela vai resistir.
Vai me odiar. Me enfrentar.
Depois, vai tremer quando ouvir meu nome.
E por fim… vai dizer ele com os olhos cheios de lágrimas, suplicando para não ser deixada sozinha no escuro.
Não vai haver redenção.
Só um final:
Ela marcada, possuída e presa sob a minha sombra.
Porque eu sou Dante Vitale.
E o mundo inteiro vai queimar…
Antes que eu deixe alguém tirar Aurora de mim.
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