Elías Navarro
Existem dois tipos de proteção no mundo em que vivo.
A primeira é feita com armas, muros altos, seguranças armados até os dentes.
A segunda… com sangue.
E quando você quer que algo nunca seja tocado, nunca seja violado, nunca seja reivindicado por outro homem… você sela isso do único jeito que não pode ser desfeito.
Casamento por pacto de sangue.
E Aurora não sabe ainda…
Mas ela vai ser minha esposa.
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Ela entrou na sala descalça, com os cabelos ainda úmidos do banho. Vestia um vestido branco simples, de algodão, mas que nela parecia realeza.
Caminhava devagar, como se sentisse o peso da noite anterior ainda pairando no ar.
Nossos olhos se encontraram.
Ela não disse nada.
Mas eu sabia o que ela queria perguntar.
— Você soube — falei.
Ela assentiu, séria.
— Soube que tentaram me levar. E que você... matou todos.
— Eu avisei, Aurora. Eu protejo o que é meu.
Ela ficou tensa com a última palavra.
— Eu não sou sua.
— Ainda não.
Ela me lançou um olhar afiado.
— O que isso significa?
Me inclinei levemente para frente na cadeira. O silêncio entre nós era espesso como fumaça.
— Significa que está na hora de formalizar a única coisa que pode te manter viva.
— Formalizar? — ela repetiu, desconfiada.
— Vamos nos casar.
Ela me encarou como se eu tivesse enlouquecido.
— Você tá brincando comigo.
— Nunca brinco.
— Casar?! Você nem me conhece! Isso é um absurdo!
— Não. Isso é sobrevivência.
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Ela começou a andar pela sala, os olhos agitados.
— Eu... não posso. Isso é errado. Você me manteve presa aqui. Me protegeu, sim, mas à força! Agora quer me usar como troféu?
— Não.
Minha voz foi firme.
— Eu quero que Dante nunca mais possa colocar os olhos em você sem pagar com a própria vida.
Ela parou.
— Dante...
— Está vindo. — confirmei. — E quando ele chegar, não virá mais com intermediários. Ele virá com fogo. Balas. Gente disposta a morrer por ele.
— E você acha que um casamento vai impedir isso?
— Não um casamento comum.
Um pacto de sangue.
Ela arregalou os olhos.
— Isso é... uma superstição?
— Isso é tradição.
E na máfia mexicana, tradição é mais forte que lei.
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Ela se sentou no sofá diante de mim. Os olhos confusos.
— Explica isso.
— Se selarmos uma união com sangue, diante dos meus homens, com testemunhas e oferenda, você passa a ser intocável. Será registrada como minha esposa de sangue. Qualquer um que te tocar depois disso, morre. Não importa o nome, o cargo ou a origem. Dante pode ser o demônio em pessoa... mas nem ele ousaria quebrar um pacto de sangue.
Ela fechou os olhos. Respirou fundo.
— Isso é... isso é loucura.
— É a única saída.
— E se eu disser não?
Meus olhos fixaram nos dela com calma.
— Então você pode esperar Dante vir. Ele vai te levar. Vai te colocar num avião, trancar numa casa no meio da Sicília, longe do mundo, e fazer com você o que quiser. Porque nesse mundo, mulher sem proteção não é mulher. É objeto.
— Eu não quero isso.
— Então diga sim.
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Ela tremeu. Os lábios começaram a se mover, mas nenhuma palavra saiu.
Ficou assim por longos segundos.
E então…
— Quando?
— Amanhã. Ao entardecer.
— Eu... preciso pensar.
— Você tem até o pôr do sol.
Me aproximei um pouco mais, encarando-a por completo.
— Mas pense rápido, nena.
Porque os monstros estão vindo.
E eu sou o único que mata eles antes que cheguem até você.
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