Elías Navarro
O som dos pneus invadindo a entrada de pedra do meu casarão me arrancou um sorriso quase preguiçoso.
Paolo Moretti.
Velho, gordo, desesperado, com cheiro de medo antes mesmo de bater na porta. Demorou demais pra vir. Esperava ele antes. Quando a menina chegou sangrando e desacordada nos braços dos meus empregados, eu já sabia que o inferno ia bater à minha porta.
E aqui estava ele.
O porco italiano que a perdeu.
Estava curioso pra ver como ele explicaria isso.
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— O senhor Paolo Moretti está aqui — avisou Carmen, com um toque de tédio na voz. — E trouxe dois seguranças. Estão armados.
— Podem ficar. Vai ser divertido.
Carmen arqueou uma sobrancelha, mas não discutiu. Ela sabia que quando eu sorria desse jeito, era porque alguém sairia machucado. Ou humilhado.
Ou os dois.
— Traga-o até a sala de ferro — pedi.
É onde gosto de resolver os assuntos que envolvem ganância e falta de cérebro. O nome “sala de ferro” é apenas simbólico, claro. Hoje em dia, eu prefiro torturar com palavras.
E essa seria uma sessão deliciosa.
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Ele entrou mais lento do que imaginei. Suava como um porco sendo levado ao matadouro, mesmo com o ar-condicionado no máximo. Terno amarrotado, a gravata m*l afrouxada, o rosto lívido. Tentava disfarçar, mas o pânico escorria pelos poros.
— Navarro — disse, tentando soar firme.
— Moretti. — fiz um gesto teatral, abrindo os braços. — Sente-se. A casa é minha.
Ele ignorou o deboche e sentou, os olhos varrendo o ambiente como se esperasse que eu pulasse da cadeira com uma faca na mão.
— Vim por ela.
Dei uma risada curta.
Sabia que ele não ia perder tempo com floreios.
— Por ela, Paolo? Que forma curiosa de se referir a uma garota que você comprou como se fosse gado. O que foi mesmo que você ofereceu? Um milhão?
Ele mordeu o lábio.
— Isso não importa. Ela foi paga. Ela tem dono.
— E fugiu.
Ele se calou.
— Fugiu debaixo do seu nariz, no meio da estrada, como uma criança assustada. Caiu. Sangrou. E apareceu aqui. Nos meus campos. No meu território. Ferida. E foi socorrida por meus homens.
Inclinei o corpo, os olhos afiados como navalha:
— Ela foi encontrada na minha terra, Paolo.
Então agora… ela é minha.
Ele bateu a mão na mesa.
— Isso é roubo! Isso é traição! Ela pertence ao Dante Vitale! Você sabe o que isso significa?!
— Quer me ameaçar, Paolo?
— Eu estou avisando! Dante a quer de volta. E se você não entregar... vai ter guerra.
— Guerra com quem? Comigo? — soltei uma gargalhada. — Ele quer declarar guerra por uma garota que perdeu antes mesmo de encostar nela? Uma menina que eu tirei da lama, tratei dos ferimentos e que agora dorme em lençóis que custam mais que o apartamento dele em Milão?
— Você acha que isso vai protegê-lo?
— Eu acho que ela estar aqui protege ela de você. E de Dante.
Paolo se levantou bruscamente.
— Eu não vim negociar. Eu vim exigir.
— E eu não negocio com ratos.
— Você está cometendo um erro, Navarro.
— E você está respirando tempo demais, Moretti.
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O silêncio ficou tenso. Eu me recostei, bati duas vezes no braço da poltrona. Imediatamente, um dos meus homens apareceu.
— Traga o dinheiro. Tudo o que ele pagou.
Paolo arregalou os olhos.
— Como é?
— Vai sair daqui com o que pagou. É mais do que você merece, mas... sou um homem razoável.
— Eu não quero dinheiro, p***a! Eu quero a mulher!
— E eu quero paz no Oriente Médio. — dei de ombros. — Mas a vida não é feita do que a gente quer, Paolo.
Ele começou a tremer.
— Você vai se arrepender. Você... não sabe com quem está mexendo.
— Sei sim. Um velho inútil que tentou entregar uma menina nas mãos de monstros. E que agora quer bancar o homem de honra. Dante devia ter feito ele mesmo esse trabalho sujo.
— Dante vai cortar sua língua por isso.
— Pode tentar. Mas vai perder as mãos antes de chegar perto de mim.
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O empregado voltou com uma maleta preta. Depositou sobre a mesa. Abriu, revelando maços de euros empilhados com precisão militar.
— Um milhão, como solicitado, senhor. Sem um centavo a menos.
— Leve, Paolo. — apontei com o queixo. — Antes que eu mude de ideia.
Ele não se moveu.
— Isso não é justo. Isso não é suficiente.
— É mais justo do que você merece. Você não perdeu uma mercadoria, Paolo. Você perdeu uma mulher. E você a perdeu porque a tratou como lixo. Eu não cometo esse erro.
Ele cerrou os punhos.
— Isso é o começo do seu fim, Navarro.
— Não. Isso é o começo da sua humilhação.
Levantei o queixo.
— Agora... saia.
— Você...
— SAIA.
Meus homens se aproximaram. Ele entendeu.
Pegou a maleta.
Caminhou até a porta.
Mas antes de cruzar, virou-se.
— Isso não vai ficar assim.
Sorri. Lento. Letal.
— Não mesmo. Quando Dante vier... eu estarei esperando.
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A porta se fechou. O silêncio voltou.
E dentro dele… o gosto da guerra se formava.
Ela vai começar.
E eu estou pronto.
Porque o nome dela é Aurora.
E ela não é moeda de troca.
Ela é o incêndio pelo qual eu vou queimar impérios inteiros.
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