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Pacto de Sangue (Mafia) 745 words 2023-07-27 22:42:48

Aurora

Tudo começou com um vestido vermelho.

Justo, curto demais. Um tecido barato tentando parecer luxo. Minha mãe ajeitou a alça caída com dedos trêmulos, enquanto meu pai bebia o quarto copo de uísque, evitando meu olhar como se eu já não fosse mais filha. Como se eu fosse só a moeda suja que eles precisavam para saldar suas dívidas.

— Sorria, querida — ela disse. — Você precisa parecer... desejável.

Desejável. Como se fosse isso que importasse. Como se meu corpo valesse mais do que minha alma dilacerada.

O salão estava cheio de homens que fedoravam a poder e podridão. Eu ouvia as risadas baixas, os cochichos sobre "o novo lote" e os olhos... Deus, os olhos. Cada olhar me despiu mais do que o vestido ridículo que vestia.

Meu coração batia tão rápido que achei que fosse desmaiar ali mesmo.

Mas eu não podia.

Porque ali, naquele palco dourado e sujo, eu seria leiloada como um pedaço de carne fresca.

— Lote 11. Dezoito anos. Virgem. — A voz do apresentador soou como uma sentença de morte.

A luz estourou no meu rosto. Eu levantei o queixo. Se era pra cair, que fosse com dignidade. Meu pai estava lá embaixo. Não teve coragem de olhar.

A primeira oferta veio de um homem gordo, de terno branco e dedos engordurados segurando um charuto. Depois outro. E mais outro.

Até que...

— Um milhão de euros. — Uma voz grave, gutural. Um velho. Careca, de óculos escuros e sorriso asqueroso. — Pago à vista.

Ninguém superou.

Eu fui vendida.

---

A viagem começou em silêncio. Um carro preto. Vidros escuros. Dois seguranças armados. Eu no banco de trás, entre eles, com os pulsos marcados de tanto apertarem minha pele.

O velho nojento, que se apresentou como Sr. Paolo, me observava como se eu fosse um brinquedo novo.

— Vai gostar do meu clube, boneca. — Ele riu. — Vai aprender a dar prazer como ninguém.

Eu pensei em gritar. Em me jogar do carro. Em morrer.

E então… o destino sorriu.

Um dos pneus estourou. O carro derrapou. O motorista perdeu o controle. E eu vi minha chance. Eles estavam distraídos, gritando, tentando estabilizar. Eu empurrei a porta e corri. Com tudo que tinha.

A noite era fria. O mato alto cortava minhas pernas.

Ouvi os gritos atrás de mim:

— Pega ela! —

— Maldita v***a! —

— Atira, p***a!

Mas eu corri. Até meus pés sangrarem. Até o mundo girar. Até...

Nada.

Porque eu tropecei. Meu corpo bateu contra uma pedra. Minha cabeça explodiu em dor. E tudo se apagou.

---

O escuro durou uma eternidade.

Mas quando voltei, percebi que ainda estava viva.

Acordei em um quarto enorme, com cortinas vermelhas pesadas, lençóis finos, o cheiro de sândalo no ar e... silêncio. Meus braços estavam cobertos por ataduras. Um curativo na testa latejava. Minhas pernas doíam. E eu m*l conseguia me mexer.

— Ela acordou — ouvi uma voz feminina sussurrar. — Vou chamar Ele.

"Ele"? Quem?

Antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa, a porta se abriu.

E pela primeira vez, eu vi os olhos que me observaram durante todos aqueles dias de inconsciência.

Castanhos escuros. Penetrantes. Gélidos.

O homem na cadeira de rodas não parecia frágil, apesar da condição. Ele exalava poder. A camisa branca estava impecável, os braços cobertos por tatuagens, o cabelo bem cortado, a mandíbula rígida. Havia algo de... perigoso nele. Algo que me fez esquecer da dor.

Ele não falou nada. Só me olhou.

Como se já fosse dono de mim.

— Quem... quem é você? — minha voz saiu fraca, trêmula.

Ele não respondeu de imediato. Aproximou-se com calma, parando ao lado da cama. Seu olhar percorreu meu rosto como se gravasse cada detalhe.

— Você não deveria estar viva. — Ele murmurou, como quem comenta o tempo. — Mas o destino... gosta de brincar com monstros.

Engoli seco.

— Me deixe ir. Por favor.

Ele riu. Baixo. Sádico.

— Depois de tudo que causou? Você caiu no território errado, nena. Agora você é minha responsabilidade. E eu... não sou bom em deixar ir.

— Eu não sou nada sua!

Ele inclinou a cabeça, com a calma de quem está acostumado a controlar tudo — e todos.

— Ainda não. Mas será.

Meu coração disparou. A cabeça latejava. Eu não sabia o nome dele. Não sabia onde estava. Mas uma coisa era clara:

Eu troquei um inferno por outro.

E esse... parecia ainda mais escuro.

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