Narrado por Dante
O salão da Villa estava em silêncio absoluto.
Silêncio não de paz, mas de tensão — o tipo que vem antes da tempestade.
A luz do fim da tarde entrava pelas janelas enormes, refletindo nos espelhos dourados, iluminando o mármore branco sob meus pés. Mas dentro de mim, tudo era breu.
Sobre a mesa de carvalho à minha frente, repousava um envelope lacrado.
Selado com cera preta.
Com o brasão dos Navarro.
O aviso chegou.
Meus homens estavam em pé. Paolo, Lorenzo, Pietro. Nenhum ousava falar. Nenhum ousava respirar mais fundo.
Todos sabiam o que era.
Mas ninguém queria ser o primeiro a confirmar.
— Fale. — minha voz cortou o ar, gélida.
Paolo deu um passo à frente, engolindo seco.
— O Conselho mexicano... reconheceu a consumação.
— Confirme.
Ele hesitou.
— Elías Navarro apresentou o lençol. Diante dos sete anciãos. O pacto com Aurora foi selado. Oficialmente. Por sangue.
Fiquei olhando para o envelope por alguns segundos.
Cada batida do meu coração parecia mais lenta.
Mais profunda.
Mais perigosa.
Peguei o envelope com calma.
Quebrei o selo com o polegar.
O cheiro da cera queimada se espalhou pelo ar.
Li as palavras.
> “Reconhecemos a consumação formal do pacto de sangue entre Elías Navarro e Aurora Navarro.
A prova foi entregue conforme os ritos antigos.
O Conselho declara a união legítima e a mulher, intocável.”
Fechei os olhos.
E explodi.
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O copo de cristal atravessou o salão e se espatifou contra a parede.
A garrafa de vinho foi a próxima.
A mesa menor — a de apoio — voou pelos ares. Os pés de madeira estalaram, o tampo se quebrou com estrondo. Os cacos deslizaram pelo chão de mármore como dentes soltos no campo de batalha.
Meus homens não se mexeram.
Sabiam que a fúria ainda não havia terminado.
— Ele levou um lençol... — rosnei. — Um maldito lençol sujo de sangue...
— E agora ela é intocável?
— AGORA ELE VENCEU?
Virei para Paolo, com os olhos em chamas.
— Você permitiu isso. Você falhou.
— Eu... eu tentei...
— Você é um inútil.
Avancei dois passos. Paolo recuou.
Quase o agarrei pela gola.
Mas me contive.
Porque o sangue que eu quero ver... não é dele.
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— Elías acha que isso acabou? — perguntei, a voz baixa, grave. — Ele acha que consumar um casamento basta? Que provar ao Conselho que fode é o suficiente para tomar o trono de volta?
Lorenzo pigarreou.
— O Conselho já reconheceu, Dante.
— E daí?
— E daí que agora qualquer ataque seu será considerado uma afronta direta. Uma declaração de guerra.
Fiquei parado. Pensando.
— Ótimo.
— Como é?
— Eu quero guerra.
— Mas senhor...
Levantei a mão.
— Escutem bem.
Todos vocês.
Navarro me desafiou. Roubou algo que estava na minha mão. Passou por cima da minha estratégia, do meu tempo, da minha ordem.
E agora se senta no trono com a mulher que deveria carregar meu nome.
— Mas não carrega — Pietro murmurou. — Ela carrega o dele.
Me aproximei. Fiquei cara a cara com ele.
— Ela carrega uma sentença.
— Dante...
— Essa mulher agora é o símbolo da desgraça dele. E eu vou usar esse símbolo contra ele. Não vou tirar Aurora dele. Isso seria pouco.
— O que vai fazer?
Sorri.
Um sorriso frio.
— Eu vou tirar tudo.
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Caminhei até o mapa tático na parede do salão.
Apontei para as fronteiras mexicanas.
— Quero mapeamento completo da movimentação de Navarro. Todas as estradas. As fazendas. As casas de apoio. As fábricas da costa.
Quero interceptar os carregamentos antes que saiam.
Quero infiltrar os meus dentro dos tribunais que eles dominam.
Quero que cada navio da rede dele perca a licença.
Quero que cada avião dele seja retido.
E quando ele estiver sufocando...
Bati com força na mesa de madeira.
— Eu vou invadir.
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Os três me encaravam como se estivessem diante de um homem diferente.
E estavam.
Porque Dante Bellucci diplomata, estrategista, já não existe.
Agora só restou o Dante que quer arrastar o nome Navarro até o inferno e cuspir no túmulo dele.
— O Conselho quer chamar isso de paz?
Pois eu vou mostrar o que a guerra significa.
Lorenzo respirou fundo.
— E se ela morrer nesse processo?
— Então ele morre duas vezes.
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Fiquei sozinho no salão quando eles saíram.
Peguei o envelope de novo.
Olhei para o brasão dos Navarro como se fosse a cara de Elías.
Dobrei devagar.
E joguei nas chamas da lareira.
Observei o papel queimar.
As palavras se retorcendo.
A cera derretendo.
— Aproveite enquanto pode, Elías.
Você pode andar, f***r, sorrir.
Mas quando eu vier...
vai rastejar.
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