Paolo
Minhas mãos tremiam.
O copo de uísque escorregava entre meus dedos suados, e o nó da gravata parecia um laço apertando minha garganta. Eu sabia que tinha que ligar. Já deveria ter ligado. Cada segundo de silêncio era uma sentença sendo assinada. Mas como contar isso? Como explicar que deixei uma fortuna fugir pelas árvores feito um coelho arisco?
Ela fugiu.
Três palavras.
Simples.
E mortais.
Peguei o celular e digitei o número com dedos trêmulos. Quando a voz da assistente de Dante atendeu, quase engasguei.
— Vitale. Agora. — foi tudo que consegui dizer.
Minutos depois, a tela do tablet acendeu. Chamada de vídeo. Meu reflexo pálido apareceu, e então... ele.
Dante Vitale.
Camisa preta impecável, cabelo puxado para trás, olhos como gelo rachado prestes a explodir. Estava sentado em sua cadeira de couro, uma arma desmontada sobre a mesa, limpando as peças como se estivesse esperando exatamente essa ligação.
— Paolo — ele disse, sem levantar o olhar. — Você demorou.
Engoli em seco.
— Dom Vitale... eu... houve um problema.
Ele levantou o rosto. Devagar.
Os olhos me fatiaram.
— Onde está a garota?
Silêncio.
O tipo de silêncio que faz seu coração pensar em parar de bater.
— Ela... escapou.
A mão dele parou no meio do movimento.
A arma ainda em pedaços.
O olhar fixo em mim como se eu fosse menos que merda.
— O que disse?
— Eu juro... foi rápido! O carro teve um problema, ela aproveitou, correu feito uma louca pelo mato... meus homens tentaram, tentaram de verdade, mas ela sumiu, foi como um fantasma!
Ele se recostou, cruzando os dedos sobre a mesa.
— Uma menina de dezoito anos... machucada... drogada... fugindo de três homens armados. E você perdeu ela?
— Foi uma falha, Dom, uma falha infeliz, eu...
— Uma falha, Paolo?
— Eu juro que estou com rastreadores nas estradas, drones, informantes... ela não pode ter ido longe.
Ele jogou a peça da arma contra a parede com tanta força que o som me fez pular.
— VOCÊ A PERDEU!
A voz dele estourou no meu peito como um soco.
— Você sabe quanto eu paguei para quebrar aquela família? Quantos anos eu planejei a falência do pai dela? Sabe quantos capangas precisei subornar para ela ir parar exatamente naquele leilão, naquela noite, sob o meu controle?
Ele se levantou, arrastando a cadeira com raiva, mancando um pouco.
Mesmo com o andar levemente torto, Dante ainda parecia um predador em movimento.
— E você... — ele apontou pra tela, o dedo trêmulo de raiva — você, seu porco imprestável, você deixou ela fugir para algum canto do mundo! Ela poderia estar agora sendo fodida por alguém que não tem meu nome. Alguém que não tem meu sangue. E isso… isso eu não perdoo.
— Eu juro, Dante, eu vou encontrá-la! Juro pela minha vida!
— Pela sua vida? — ele riu, sem humor. — Você acha que sua vida vale alguma coisa pra mim?
Minha bexiga quase falhou. O suor escorria pelas minhas costas.
— Me dá uma semana... uma semana, e eu a encontro. Eu trago ela de volta. Intacta. Do jeito que você quer.
Dante pegou o revólver montado e testou o tambor. Devagar. Metódico.
— Você tem três dias.
— T-t-três?
— Se até lá ela não estiver de volta... — ele enfiou o tambor na arma, girou e clic — eu mando cortar sua língua e te deixar pendurado de cabeça pra baixo na praça de Verona. Nu. E podre.
Meu estômago virou. Eu caí de joelhos, implorando.
— Dom Vitale, por favor... eu nunca falhei antes!
— E por isso ainda está vivo.
Ele se aproximou da câmera, os olhos queimando com um ódio que eu jamais vi igual.
— Ache a garota, Paolo. Antes que outro homem coloque as mãos onde eu deveria estar.
Se ela estiver com outro... eu mato ele.
Mas você... você vai implorar pela morte.
A ligação caiu.
E eu fiquei ali, ajoelhado no chão do meu escritório, tremendo, suando, e pensando em uma coisa só:
Se ela estiver com alguém… quem tiver ela agora… está morto. E eu também.
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