Elías Navarro
As rodas da cadeira rangiam baixo no corredor do hospital particular que eu havia mandado construir anos atrás, longe da cidade, em uma encosta protegida por seguranças armados e silêncio comprado a preço de sangue.
Poucos sabiam que eu vinha aqui. Menos ainda sabiam que minha presença ali não era por escolha, mas por necessidade.
Estar limitado ao metal e às rodas era a tortura mais c***l que a vida já havia me imposto.
E hoje...
eu estava farto. . . . . . . . . .
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Dr. Salazar me esperava no consultório principal. Rosto calmo, jaleco impecável, mas os olhos nervosos. Ele sabia quem eu era. Sabia o que significava me frustrar.
— Bom dia, senhor Navarro.
— Não vamos perder tempo com cortesias — rosnei. — Quero saber quanto tempo falta.
Ele engoliu em seco.
— Trouxemos os exames mais recentes, como o senhor solicitou. Fizemos a nova ressonância e os testes de estímulo muscular. O progresso é... notável.
— Quanto tempo?
Ele hesitou.
— Precisamos tomar cuidado com a reabilitação, senhor. Se tentar se forçar antes da hora, pode perder os ganhos conquistados.
— Eu perguntei quanto tempo falta pra eu sair dessa maldita cadeira, Salazar.
O silêncio pesou. E então:
— Uma semana. Talvez menos.
Meu corpo congelou.
Mas por dentro...
um fogo acendeu.
— Está dizendo que em sete dias eu posso me levantar?
— Com acompanhamento. Com cautela. Mas sim. As conexões nervosas voltaram a responder. A musculatura está reagindo. O senhor pode andar novamente.
Fechei os olhos.
E por um instante...
o mundo ficou em silêncio.
Não pelas palavras.
Mas pelo poder que elas devolviam a mim.
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— Você tem certeza disso? — perguntei, abrindo os olhos lentamente.
— Tenho. Mas reforço: precisa seguir os exercícios, evitar esforços extremos e, acima de tudo, manter o repouso entre as sessões. Qualquer erro pode atrasar tudo.
— Em uma semana eu quero estar de pé.
— Isso é possível.
— Não. — o corrigi. — Isso vai acontecer.
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Voltei para a mansão com os dedos apertando os braços da cadeira como se pudessem esmagá-la. Carmen me esperava na entrada, como sempre.
— Tudo certo? — ela perguntou.
— Em sete dias, Carmen… — murmurei. — Essa cadeira vai me ver pelas costas.
Ela não respondeu. Mas pela primeira vez em muito tempo… eu vi algo diferente no olhar dela.
Orgulho.
E talvez... medo.
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Naquela noite, parei diante da porta do quarto de Aurora.
Não entrei.
Não bati.
Apenas fiquei ali, encarando a madeira, como se pudesse vê-la do outro lado.
“Você é minha esposa.
Mas eu jurei que nunca te tocaria sem que pedisse.”
A partir da próxima semana…
eu não precisaria mais que ninguém me carregasse.
E se ela pedisse…
então eu a tomaria.
Com força, com honra, com tudo que me foi negado até agora.
Porque o homem que eu fui está voltando.
E ninguém vai se colocar entre mim…
e a minha mulher.
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