Narrado por Paolo Moretti
Eu nunca fui tão bom em encarar consequências.
Vender, subornar, esconder... isso eu domino.
Mas encarar a fúria de um homem como Dante Vitale, sabendo que você falhou com ele não uma, mas duas vezes... isso é diferente. Isso é suicídio.
Mas chegou o momento. Não havia mais como adiar.
Ele me ligou.
Na tela: "Dante".
A chamada de vídeo que parecia uma sentença de morte.
Respirei fundo.
Lambi os lábios secos.
E atendi.
— Dom Vitale...
Ele apareceu na tela, sentado em seu escritório. Terno cinza, gravata preta, cabelo puxado para trás. Nenhum traço de cansaço. Só aquela calma que vem antes da tortura.
— Fale, Paolo. E escolha bem as palavras. É a sua última chance.
Engoli em seco.
— Eu... localizei Aurora.
Silêncio.
Os olhos dele se estreitaram.
— E?
— Ela está... na propriedade de Elías Navarro.
Ele não reagiu.
Nenhum som.
Nenhuma piscada.
— Repita — ele disse, frio.
— Elías Navarro. No México. Ela caiu em uma das propriedades dele. Os empregados a encontraram desacordada. Ele a recolheu. Está com ela desde então.
— Você mandou os homens, não foi?
— Mandei. Doze.
Dante se recostou. O olhar dele mudou. Não era mais gélido.
Era... faminto.
— Continue.
— Eles invadiram a casa dele. Tentaram seguir o plano. Mas... Elías estava preparado. Armadilhas. Gás. Armas silenciosas. Sistemas de segurança que nunca vi antes. Um a um, eles foram mortos. Todos.
— Todos? — ele repetiu, devagar.
— Sim. Não sobrou ninguém. Eu... eu só escapei porque não fui pessoalmente.
— Que pena.
A forma como ele disse aquilo me fez gelar até a alma.
— Dante... eu estou tentando consertar isso. Eu fui até lá. Falei com ele. Exigi que devolvesse a garota. Ele riu da minha cara. Mandou devolver o dinheiro. Me humilhou. Disse que ela agora pertence a ele porque foi encontrada no território dele.
— E você... aceitou?
— Eu... eu não tive escolha. Estava cercado. Se eu insistisse, sairia de lá num saco preto.
Dante se inclinou pra frente.
— E por que acha que isso me impede de mandar você pro mesmo saco?
— Porque eu ainda posso ajudar. Posso te passar a planta da casa, os horários da segurança, os acessos... tudo!
Ele ficou em silêncio.
Seus olhos queimavam a tela.
— Você... vai me dar tudo. Agora.
— Eu dou. Claro! Mas... você vai até lá? Pessoalmente?
O que veio a seguir não foi uma resposta.
Foi um surto.
Ele se levantou, empurrou a cadeira com tanta força que ela bateu na parede. A câmera caiu, a imagem tremeu. Vidros estilhaçando, gritos ao fundo. Um barulho de metal sendo arremessado. E então...
— ELE VAI PAGAR!
ELE VAI MORRER!
EU VOU ARRANCAR ESSE ALEIJADO DA CADEIRA E ENTERRAR A p***a DA RODA JUNTO COM ELE!
A tela ficou preta.
Eu derrubei o tablet no chão, o coração disparado.
Ele sabia.
E agora... o inferno ia se abrir.
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Cinquenta minutos depois, recebi uma nova mensagem.
Era uma lista.
— Armas. Rota. Contato no México. Informante interno. Nome do engenheiro. Planta da mansão. Nome dos guardas. Nome do homem que cuida da menina.
E no final:
— Se você me der tudo isso... eu te deixo com uma bala no crânio. Rápida. Sem dor.
Eu me ajoelhei no chão do meu escritório, tremendo.
Porque agora não era mais sobre Aurora.
Agora... era guerra pessoal.
Dante Vitale ia atravessar o mundo.
E matar Elías Navarro com as próprias mãos.
Nem que tivesse que arrastar o corpo dele pela mansão inteira antes de tirar Aurora de lá.
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