A mansão Navarro — 3h43 da madrugada
O silêncio era cortado apenas pelo som das botas pisando na terra seca. Os homens de Paolo — doze no total — avançavam pelo vinhedo, divididos em três grupos. Tinham rostos pintados com tinta preta, luvas táticas, armas com silenciadores e ordens claras: matar Elías Navarro. Trazer Aurora viva.
Marco, o homem de confiança de Paolo, liderava o grupo que se aproximava da ala leste da mansão. À frente dele, estava um dos pontos cegos das câmeras — mapeado na planta fornecida por um ex-funcionário da construção.
Eles chegaram até a parede. Nada de sensores visíveis. Nada de armadilhas.
— Agora — sussurrou Marco.
Dois homens se aproximaram da janela lateral. Um deles usou uma alavanca para erguer a trava. O outro preparou a entrada silenciosa.
Mas antes que pudessem empurrar a janela...
PAFT.
Um som seco. Rápido.
O primeiro homem caiu de joelhos, com uma flecha cravada no pescoço.
Antes do segundo reagir...
PAFT.
Outro disparo. Flecha no peito. Silêncio. Morte.
Marco arregalou os olhos.
— Armadilhas?! Eles têm armadilhas antigas? Flechas?
Sim. Elías Navarro não era moderno.
Ele era medieval.
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Dentro da mansão, no salão escuro, Elías estava acordado.
Como sempre.
Ele jamais dormia profundamente. Tinha sensores espalhados por toda a propriedade, conectados à cadeira de rodas. Sabia quando alguém respirava fora do compasso da rotina.
E agora… o sistema mostrava pontos de calor se aproximando.
Onze.
— Vieram como ratos — murmurou, com um sorriso frio.
Ao seu lado, Carmen segurava um tablet.
Do outro, Mateo, seu segurança pessoal, carregava uma espingarda artesanal de cano curto.
— Confirmado — disse Carmen. — São homens de Paolo. Entraram pela lateral. Dois já foram eliminados.
— Deixe virem — disse Elías calmamente. — Eles acham que a escuridão pertence a eles. m*l sabem que eu a construí.
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Marco puxou os dois corpos para dentro do mato e fez sinal para que o segundo grupo contornasse pelo lado sul. Mas, no caminho, um dos soldados pisou em algo metálico.
CLIC.
— NÃO SE MEXE! — gritou um dos companheiros.
Mas era tarde.
BUM.
A explosão engoliu o homem em fogo e estilhaços.
O impacto lançou dois para trás.
Agora o silêncio tinha sumido.
A mansão inteira acordou.
Luzes acenderam nas janelas altas. Portas blindadas se fecharam com sons metálicos. Cortinas caíram automaticamente para bloquear visão externa.
E então…
As sirenes começaram a tocar.
Graves. Ritmadas. Com um som que fazia o sangue gelar.
— MERDA! — gritou Marco. — NOS FODERAM!
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Lá dentro, Elías não se moveu um centímetro.
— Comece a caçada — ordenou.
Mateo saiu sem dizer uma palavra.
Carmen pressionou um botão, e todas as portas de emergência dos corredores se trancaram por dentro. O sistema de combate da mansão tinha sido criado por ex-soldados russos.
Era uma fortaleza disfarçada de lar.
E agora, estava faminta por sangue.
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Dois dos homens de Paolo conseguiram entrar. Mas assim que pisaram no corredor principal, sensores nos rodapés detectaram movimento. As luzes se apagaram e um gás invisível começou a ser liberado do teto.
— TIRA A CAMISA! COBRE O ROSTO! — um deles gritou, tossindo.
Mas os olhos já ardiam.
O estômago revirava.
E antes que alcançassem a porta mais próxima, Mateo apareceu da escuridão com a espingarda.
PÁ!
Um deles caiu com a cabeça aberta.
PÁ!
O segundo despencou pelas escadas.
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Marco estava em pânico.
— RECUA! RECUA, p***a! — berrava no rádio. — É UMA ARMADILHA! ISSO NÃO É UMA CASA!
Mas ninguém respondia mais.
Doze haviam entrado.
Cinco estavam mortos.
Quatro estavam desaparecidos.
Dois gritavam por socorro.
E Marco… era o último tentando escapar pela mesma brecha que usaram para entrar.
Mas quando chegou ao ponto de fuga…
Elías estava lá.
Parado. Na cadeira. No meio da noite. Cercado de sombras.
Sozinho.
Sem armas.
— Boa noite — disse, calmo.
Marco tremeu, apontando a arma.
— NÃO CHEGA PERTO!
Elías ergueu uma sobrancelha.
— Você veio armado, invadiu meu lar, matou meus cães e esperava sair andando?
Marco hesitou.
Tremeu.
E então, do alto, algo caiu em sua cabeça.
Mateo. Com uma faca.
O sangue respingou nas rodas da cadeira.
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Ao amanhecer, Elías estava de volta ao salão.
Carmen limpava o chão com cloro.
Aurora ainda dormia no andar de cima — não ouvira nada. Ou fingiu que não ouviu.
Mateo voltou com a última informação:
— Nenhum sobreviveu. E os corpos já foram cremados.
Elías sorriu. Sem pressa.
— Paolo achou que eu não andava.
Ele ergueu a perna esquerda com dificuldade. Um leve movimento.
— Eu não preciso andar pra matar.
Basta sentar… e esperar.
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