Elías Navarro
Ela sangrava.
Quando a vi pela primeira vez, meu instinto foi simples: avaliar se estava viva ou morta. Estava viva. Fraca. Suja. Ferida. Mas viva.
Meu capanga, Ramiro, a havia encontrado caído no matagal perto do posto de vigilância norte. Ela devia estar correndo há horas. A pele coberta de arranhões, os pés em carne viva, e sangue escorrendo da cabeça. Poderia ter sido uma camponesa perdida... se não fosse a p***a da beleza.
Mesmo desacordada, ela era absurdamente linda.
Olhos fechados, cílios longos, a boca levemente entreaberta, os lábios inchados de sol, a respiração curta. Uma boneca quebrada largada aos pés de um monstro.
— Ela estava fugindo, Don. Do que, não sabemos ainda — disse Ramiro.
— Tragam para dentro. Cuidem dela.
— E se for isca?
— Então matamos quem jogou a isca.
Frio. Rápido. Prático.
Como deve ser.
Mas não era só isso.
A cada hora que passava com ela inconsciente em minha casa, minha mente mergulhava mais fundo em algo que não sentia há anos. Curiosidade. Fascínio. Obsessão.
No primeiro dia, mandei trocar todos os lençóis. Dois médicos. Sem marcas de abuso s****l. Isso me acalmou... e me enfureceu. Porque saber que ela era intocada despertou algo ainda mais possessivo em mim.
No segundo dia, comecei a observá-la da poltrona.
Horas e horas.
Seus dedos se moviam quando sonhava. Às vezes sussurrava algo. Parecia chamar alguém. Ou pedir ajuda.
Mas ela nunca chamou por mim.
E isso... me irritou.
No terceiro dia, decidi sentar ao lado da cama.
Queria ver de perto. Sentir o cheiro da pele. Saber se os cílios eram reais. Se o batom seco ainda guardava gosto de sangue ou medo.
E quando ela abriu os olhos…
Carajo.
Aquele olhar.
Assustada, sim. Mas não derrotada.
Ela ainda tinha fogo.
Eu já matei com menos.
Mas com ela... eu queria queimar junto.
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— Você não deveria estar viva. — Falei, porque era a verdade.
Ela me olhou como se eu fosse o próprio demônio. E talvez eu fosse mesmo. Eu não queria ser gentil. Não queria dar esperanças. Só queria que ela entendesse logo que… não existia saída.
— Me deixe ir. Por favor. — Ela implorou.
Aquela palavra… “por favor”.
Não funcionava comigo. Nunca funcionou.
— Agora você é minha responsabilidade. — Afirmei. — E eu não sou bom em deixar ir.
Ela gritou algo. Me chamou de louco.
Eu sorri.
Gosto de mulheres que reagem.
Mas também gosto de dobrá-las até que ajoelhem.
Ela disse que não era minha.
Eu disse que ainda não.
E naquele momento, algo dentro de mim decidiu: ela vai ser minha. Por completo.
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Mais tarde, chamei Carmen, minha governanta.
— Ela precisa de roupas, sapatos e uma suíte.
— Está dizendo que ela... vai ficar?
— Estou dizendo que ninguém encosta nela sem a minha ordem.
Carmen me olhou como se soubesse exatamente o que estava acontecendo. Mas ela já me conhecia. Já tinha visto outros olhares meus no passado. Nenhum era como esse. Ela sabia.
— É perigoso se apegar, señor.
— Não me apego. Eu coleciono.
Mentira. Eu já estava preso.
Mas não ia admitir nem para mim mesmo.
Ela era um problema. Eu já sabia disso.
E então Ramiro voltou.
— Descobrimos quem a comprou.
— Comprou?
— Era um leilão. Ela foi vendida ontem à noite para Paolo Moretti. Um traficante de garotas. Trabalha pro Dom italiano, Dante Vitale.
O nome fez meu sangue gelar.
Vitale.
— Tem certeza disso?
— Temos fotos. Ela fugiu antes de chegar ao destino. Foi sorte ela cair aqui, Don.
Sorte.
Ou maldição.
Dante Vitale era meu inimigo silencioso. Um parasita italiano que adorava infiltrar tentáculos em todos os cantos da América Latina. E agora… estávamos ligados por ela.
A garota vendida.
A mulher que ele queria.
A mulher que agora... era minha.
— Avisa aos homens: se alguém tentar levá-la... — Inclinei a cabeça, frio. — Enterrem em pedaços.
Ramiro assentiu.
Enquanto isso, lá em cima, ela dormia.
Ainda frágil. Ainda sonhando. Ainda sem saber que o verdadeiro cativeiro tinha começado agora.
Eu podia não estar em pé. Podia estar preso a uma cadeira por culpa de um atentado miserável que quase me matou. Mas meu cérebro, minhas mãos e minha fúria ainda controlavam tudo.
E agora controlavam ela.
Aurora.
Nome bonito.
Vai soar ainda melhor quando for seguido do meu sobrenome.
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