Elías
Ela tentou fugir.
Claro que tentou.
Toda mulher esperta tenta. Antes de entender que o mundo real não tem portas de saída, só novas celas com paredes pintadas de esperança.
Aurora gritou. Chutou. Mordeu.
Fez exatamente o que eu esperava de alguém com fogo nos olhos.
Mas agora… ela está em silêncio.
Sentada na beira da cama, os joelhos encolhidos contra o peito, a boca trêmula. Não sei se é medo ou cansaço. Talvez os dois.
Bati levemente com os dedos na lateral da cadeira e pedi para os homens se retirarem. A porta se fechou atrás de mim com um estalo metálico. Gosto desse som. Final. Inescapável.
— Você tem espírito — disse, deixando a cadeira deslizar pelo chão até parar em frente a ela. — Mas isso não vai te salvar aqui.
Ela não respondeu. Nem me olhou.
Os olhos fixos em um ponto qualquer na parede.
Aproximei a mão devagar e levantei o queixo dela com dois dedos.
— Está me ignorando agora?
Ela puxou o rosto de volta.
— Me odeia tanto assim?
— Eu odeio todos vocês. Homens. Monstros. Vocês acham que podem fazer o que quiserem porque têm armas, dinheiro ou um sobrenome que mete medo. Eu não sou sua. E nunca vou ser.
Ri baixo. A sinceridade dela me dava t***o e raiva em doses iguais.
— Mas você já é, Aurora. Desde o momento em que caiu no meu território, você passou a me pertencer. Eu decido se você come, dorme, respira. Isso não é romance. É guerra.
Ela mordeu o lábio para não chorar.
— Então me mata logo.
— Não.
— Por quê?!
— Porque não se mata uma obra-prima.
Ela me olhou pela primeira vez desde que entrei. E ali estava o medo. Mas também algo mais: dúvida. E onde existe dúvida... existe espaço para domar.
— Eu quero ir embora, Elías.
— Não. Você quer justiça. Você quer vingança pelos seus pais, por ter sido vendida, traída, usada. E sabe quem pode te dar isso?
Fiquei em silêncio por dois segundos.
— Eu.
Ela balançou a cabeça, os olhos brilhando.
— Você é igual a eles.
— Não, nena. Eu sou pior.
A diferença é que eu nunca te prometi o paraíso.
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Mandei Carmen levar roupas novas para ela. Escolhi todas pessoalmente.
Nada vulgar. Mas provocante o bastante pra lembrar quem mandava. Seda preta, vestidos justos, decotes sutis.
Ela se recusou a vestir os primeiros.
Então deixei a bandeja de café da manhã intocada por dois dias.
Na terceira manhã, ela usava a roupa que escolhi.
Dobrar é questão de tempo. Não de força.
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Quando ela desceu pela primeira vez até o jardim, mancando ainda por causa dos ferimentos, me permiti sorrir.
Ela parou diante de mim, hesitante. Como uma princesa de conto de fadas prestes a descobrir que o castelo é feito de ossos.
— Por que me dar roupas, comida... se tudo isso é uma prisão?
— Porque até em cativeiro uma rainha pode ter sua coroa.
Ela franziu o cenho.
— Você gosta de manipular, né?
— Eu gosto de controle. Manipulação é só uma ferramenta.
Ela cruzou os braços, como se tentasse criar alguma armadura.
— Você é sempre assim com as mulheres?
— Não.
— Então por que comigo?
Inclinei o corpo, firme.
— Porque você me deixa fraco. E eu odeio me sentir fraco. Então quero te possuir até não restar mais nada do que você era antes. Nem voz, nem vontades, nem fuga.
Ela arregalou os olhos, assustada.
Mas também… fascinada.
E esse foi meu primeiro avanço real.
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Naquela noite, deixei um presente no quarto dela.
Uma caixa vermelha, com um colar de diamantes. E uma carta, escrita à mão:
“Você pode não ter escolhido cair no meu mundo. Mas agora, é nele que você vai reinar. Com ou sem consentimento.”
— Elías.
Ela rasgou a carta. Jogou o colar contra a parede.
Mas no dia seguinte, vi que ela o recolheu e escondeu no fundo da gaveta.
Mais um ponto pra mim.
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Ramiro veio me avisar:
— O italiano sabe que ela está aqui.
— Dante?
— Sim. Mandou Paolo enviar um recado: quer a garota de volta. Diz que ela pertence a ele.
Sorri.
— Então é isso. A guerra começou.
— O que vai fazer?
— O que sempre faço.
Destruir.
Mas primeiro…
Vou destruir Aurora. Por dentro.
Pra que, quando Dante tentar tomá-la… ela só saiba chamar um nome: o meu.
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