FELINO

Minha cidade, Salvador, é uma cidade turística. Somos ricos em cultura, comidas e artesanato indígena e africana. Moro no Rio Vermelho, um bairro boêmio da cidade, para ficar mais próximo ao trabalho. Aqui a noite é viva, cheio de pessoas em bares e restaurantes, bebendo, fumando, conversando. É um local muito movimentado, tanto por causa de adolescentes que vêm assistir shows de bandas inciantes no mundo musical, quanto de adultos que vêm curtir tudo o que o Rio Vermelho tem a oferecer. Sexta-Feira a noite, quando volto cansada do trabalho, depois de andar em um ônibus superlotado às sete da noite. Resolvo passar pelo mercado e verificar se havia alguma promoção boa. Antes de entrar, escuto um silvo no beco e um rosnado. Corro pra lá ver o que acontecia. E acho um gato sendo encurralado por um cachorro enorme, parecia um cavalo de tão grande. Pego uma pedra grande, mesmo com medo e jogo nele, alcanço o gato e saio correndo pra dentro do mercado. Afinal, aqui raramente reclamam de animais dentro da loja. Depois de respirar fundo e olhar o lado de fora pra ver onde estava o cão, e não o achar, verifiquei o gato, que era macho, para feridas, felizmente ele estava bem. Com ele nos braços, pego itens necessários para um felino e volto pra casa comendo um chocolate pra me acalmar. Mas a todo instante olhei para trás com medo do cachorro com esteróides. Em casa, instalei o gato na cama que comprei pra ele e fui arrumar a casa escutando uma música relaxante. Tudo o que eu fiz o gato acompanhou com o olhar. Arrumei a casa, fiz o jantar e fui tomar banho como costumo fazer, com a porta aberta. Achei estranho o gato me acompanhar, gatos geralmente não gostam de água, mas dei de ombros e entrei no chuveiro. Quando termino meu banho, me enxugo e saio com o gato andando atrás de mim. Pego uma camisa e uma calcinha, visto e sento na cama. O gato senta do meu lado e fica me olhando. Olho de volta. "Nos conhecemos numa situação louca, não é gatinho?" Acaricio sua cabeça. "Nós precisamos de um nome pra você. Não posso ficar te chamando de gatinho. Deixe-me pensar." Acariciando atrás da sua orelha esquerda, olho pra ele inteiro pensando num nome. "Você é macho e você é tão lindo! Que tal Thor?" Ele vira a cabeça de lado. "Você gostou?" Ele silva. "Ok. Então, que tal, Rock? É um nome poderoso, cara!" Ele não silva desta vez. "Acho que esse serve?" Ele ronrona. "Ta bem. Então, muito prazer Rock, meu nome é Renata, seja bem vindo a minha casa. Agora também é sua". Ele sobe em meu colo e lambe meu rosto. Estranho. Achei que só cães que lambiam. Mas quem sabe? Nunca tive animal algum. Dou de ombros. "Agora terei alguém pra conversar quando chegar em casa. Quer dizer, ouvir eu falar". Sorrio pra ele. "Você é lindo, Rock! Da próxima vez que eu passar pelo mercado eu vou te comprar uma coleira. Você vai ficar mais lindo." Tiro ele de cima de mim e vou pra cozinha. Coloco um miojo pra mim e comida de gato pra Rock. Como não tenho mesa, como em cima da cama. "Você não faz bagunça quando come. Muito bom!" Sorrio enquanto observo Rock comendo como um cavalheiro em cima da cama comigo. Quando ele termina, resolvo ir dormir. Estou muito cansada pra perder tempo assistindo TV. Verifico se as portas e janelas estão trancadas com Rock no meu calcanhar, separo minha roupa do dia seguinte para o trabalho e desligo as luzes. Me jogando na cama, acabo apagando quando Rock deita perto da minha barriga. Acordo confortável e quentinha. Meu gato ainda enrolado próximo a mim. Embora odei ter que levantar cedo pra o trabalho, fico emocionada para terminar logo e eu poder voltar para casa e ficar com Rock. Deixo ele na cama se alongando e vou tomar um banho. Depois quer termino, vouvte toalha até a cozinha e coloco a cafeteira para fazer meu café preto. Enquanto passo por Rock, lhe esfrego a cabeça, entrando no quarto novamente. Previso me vestir urgentemente para que eu posso tomar café e sair. Visto a calcinha e tiro a toalha jogando em cima da cama, cobrindo Rock. Rio e tiro a toalha dele. "Descukpe querido, não vi você aí." Pego meu sutian e a roupa que separei e a visto. Sinto um cheiro delicioso de café feito. Penteando meu cabelo úmido, caminho até a cozinha, deixando o pente em cima da ilha. Colo o café na xícara e adiciono açúcar, pego uma fatia de torrada e como em pé mesmo. "Rock vem comer." Chamo. Deixo um pouco de ração seca em seu prato e um pouco de água fresca na vasilha dele. "Não sei se você pode comer pão, mas vou deixar uma torrada para você aqui em cima do banco, como uma lanche para mais tarde." Sei que ele não pode me entender, mas ele virá farejar enquanto estou fora e vai achar e comer se quiser. Termino de me arrumar pra sair, mas o gato tenta me segui prs fora. "Vou trabalhar, Rock, você não pode vir vomigo. Me desculpe. Volto a noite." Corro e tranco a porta. Ando até o ponto de ônibus, esperando pelo que me deixará mais perto do trabalho. Quando ele chega, já cheio de gente, procuro um espacinho pra me encaixar lá dentro e finalmente, aqui estou eu. Uma sardinha a mais na lata de sardiha. Me seguro em um encosto do assento e espero minha viagem de quase uma hora começar. Mesmo que eu não goste de pegar ônibus todos dias, ainda preciso. Caminhar até o trabalho por ruas perigosas é que não dá. Por isso, enfrento, diariamente, pessoal m*l cheirosas, homens passando a mão "sem querer" na minha b***a, pessoas conversando alto sobre sua vida pessoal, alguém ouvindo música gospel no volume máximo, e outras coisas chatas e irritantes, até meu trabalho. Um dia ainda terei um carro para me levar e me buscar no trabalho, porque são anos dentro desse inferno e nada melhora aqui.