Sol - Após se queimar!

Noah Dois dias antes do Noah reencontrar a Sol na virada do ano. Hoje eu sou uma pessoa completamente diferente do que já fui há alguns anos atrás, estou com 27 anos e mudei totalmente o caminho que eu seguia. Abandonei a igreja e consequentemente me afastei da maioria dos amigos que eu possuía, o único que continua presente atualmente é o Lúcio, afinal ele seguiu o mesmo caminho que eu. Nós dois parecemos irmãos, na verdade eu posso afirmar que o Lúcio é mais meu irmão que os meus irmãos de sangue e olha que eu tenho uma quantidade relativamente grande, no total são dez. Meus pais gostaram de fazer filhos e começaram antes de ficar juntos, os dois foram casados antes de se unirem. O casamento deles não era perfeito, mas eles faziam as coisas darem certo e não se separaram para nada, até quando a minha mãe resolveu entrar para a igreja o meu pai resolveu ir atrás e olha que ele era um clássico boêmio na época gostava muito de um barzinho e as suas bebidas alcoólicas além da jogatinas e das músicas. Sinceramente eu não sei como que os dois se conheceram e ficaram juntos mas eu sei que em meio as dificuldades do relacionamento e da pobreza eles permaneceram fiéis um ao outro até o dia que a minha mãe partiu. Pelo menos é essa informação que eu recebo de todos os meus irmãos, eu tenho sete irmãs e três irmãos. Eu sei, é uma família grande mas eu quase não tive contato com eles porque sou mais novo e demorei muito para vir ao mundo. Eu sempre me senti muito sozinho, principalmente depois que os meus irmãos casaram e foram viver as suas vidas, meu pai é um homem muito reservado, nós convivemos bem, mas me faltava companhia e eu resolvi suprir essa falta buscando vários relacionamentos e como não existe lugar melhor para arrumar mulher do que em casas noturnas eu passei a frequenta-las constantemente, na verdade eu era um frequentador mais do que assíduo, dos sete dias da semana pelo menos cinco dias da semana eu estava nesses lugares. Eu praticamente não dormia, vivia virado entre noitadas e o trabalho. Eu descobri um outro tipo de vida com diversão , mulheres, bebidas e drogas. Experimentei várias delas, eu sei, até eu me choquei quando percebi a que ponto eu tinha chegado, mas sabe como é, influência de colegas ajuda bastante quando você se sente sozinho e perdido no mundo. Às vezes eu fico me perguntando: Será que se eu tivesse mais contato com os meus familiares eu teria entrado nesse mundo caótico que nos suga o tempo todo e tira de nós a verdadeira felicidade? Eu acho que não, principalmente se a minha mãe estivesse viva, acho que ela teria enxergado a minha necessidade de atenção e carinho e teria colocado um limite em mim, acho que um grande fator que contribuiu para eu adentrar nesse mundo foi a falta de limite. Eu sempre fui muito solto desde muito pequeno, saía de casa inúmeras vezes sem dar satisfação, passava o dia inteiro fora e quando voltava chegava extremamente tarde e nunca era chamado atenção por isso, pelo contrário, o meu pai ainda falava coisas do tipo para as minhas irmãs: Deixa que ele é menino ou não fica prendendo o menino desse jeito. Elas tentavam me corrigir e me ensinar as coisas mas o meu pai não permitia. A gente começa com a bebida alcoólica e gosta daquela sensação de leveza que a nossa cabeça fica, mas com o passar do tempo aquele efeito diminui e a alegria não parece ser tanta. E aí a gente vai partindo para outras coisas, eu experimentei a maconha, cocaína, êxtase. As sensações me agradavam muito na hora, mas em compensação depois a grande tristeza da minha realidade me atingia e me fazia sentir pior do que antes. Quando o efeito passava eu ficava muito nervoso e ansioso e para tentar diminuir um pouco aquele efeito nos momentos em que eu não podia me drogar eu fumava o cigarro normal. O que acabou me gerando mais um vício, o café, eu acho que eu devo tomar café pelo menos umas cinco vezes ao dia. Quando algumas pessoas da minha família notaram o que eu estava fazendo, alguns me chamaram para conversar, mas a forma com que me falaram fez parecer que eu tinha virado um delinquente. Eu me senti extremamente m*l por não compartilhar dessa visão, ficava envergonhado e cada vez me isolava mais da presença deles. Algumas delas tinham medos de me deixar próximo aos meus sobrinhos como se eu fosse fazer alguma coisa de m*l com algum deles, isso só servia para me ferir mais. Eu entendi que as pessoas não gostavam de ter um viciado por perto, mas eu vivia a minha vida de forma tranquila, trabalhava, pagava as minhas contas, não fazia m*l a ninguém todo m*l que eu fazia era somente a mim mesmo. Eu não conseguia entender e muito menos aceitar a mentalidade dessas pessoas, consequentemente me afastei de muitas delas, sei que eu estava errado, mas eu não consegui agir de outra maneira. Nesse período tive muitas mulheres, mas nunca me apeguei a nenhuma delas até conhecer a Márcia, ela me tratava bem, o sexo era bom e quando me vi estava passando bastante tempo na casa dela ajudando os pais dela a gerenciar um bar. Tinha achado um ótimo lugar, afinal nele eu encontrava tudo o que eu estava vivendo, eu dividia a minha vida profissional na empresa e com o bar, era cansativo, mas eu quase não conseguia dormir, então eu ocupava o meu tempo. Ela me acompanhava em todas as loucuras que eu andava fazendo,por um momento eu achei que iríamos ficar juntos mesmo, até que eu descobri que ela tinha feito um aborto de um filho meu. Quando eu cheguei em casa de madrugada depois de fechar o bar e a encontrei passando m*l fiquei bem preocupado e quis levá-la ao hospital, mas ela se recusava veementemente, e foi aí que ela revelou o que tinha feito, eu fiquei perplexo com a naturalidade que aquela mulher comunicou a morte do nosso filho. Eu sabia que andava fazendo muita merda nos últimos anos, mas eu não podia ser conivente com isso, ela tirou a vida do meu filho. Ela não teve nem a capacidade de me contar que estava grávida, como que eu ia continuar com uma mulher dessa forma? Quando ela me contou o motivo do aborto eu fiquei mais chocado ainda, naquele momento eu decidi por um fim na nossa relação. Quando terminei a nossa relação ela não quis aceitar, me ameaçou de todas as formas que podia, rasgou minhas roupas enquanto eu tentava fazer as minhas malas e me bateu mas não conseguiu me impedir e assim eu voltei a morar na casa do meu pai. Eu estava muito triste, afinal um dos meus sonhos era ser pai e ela tinha tirado isso de mim da forma mais c***l que uma mulher poderia fazer. Voltar a morar com meu pai foi muito difícil porque mais uma vez eu me senti extremamente solitário. Me readaptar à solidão extrema depois de retornar dos plantões exaustivos da empresa era complicado, para aliviar a sensação eu fumava muito maconha, era o único momento que eu me sentia um pouco melhor. Hoje fazendo uma análise sobre a minha vida eu entendo que estou vivendo muito m*l e preciso urgentemente mudar a minha conduta. Afinal eu quero encontrar uma pessoa bacana para me casar e ter filhos e uma mulher decente não vai querer o marido que age da forma que eu estou agindo. Baseado no desejo que possuo, decidi parar de ingerir todo tipo de drogas e me afastar dessas pessoas, não sou iludido, sei que vai ser muito difícil, mas é o preço que terei que pagar por ter ido tão longe. O primeiro passo é me livrar de toda droga que possuo em casa, voltar aos velhos amigos, me aproximar da minha família e voltar para a igreja, eu sei que a gente consegue apoio lá e eu preciso muito. Só espero que a timidez não atrapalhe. Abro minha gaveta e pego todas as drogas e caminho para o banheiro, levanto a tampa do vaso e repenso a minha escolha. ' Você gastou um bom dinheiro nessas coisas Noah, vai mesmo jogar tudo fora?’ ' Ninguém tem nada haver com sua vida, continua usando suas coisas.’ ' Mulher nenhuma quer um drogado como marido.' Peguei as coisas e coloquei tudo em cima da pia do banheiro e olhei para o meu reflexo no espelho, eu tinha que admitir parecia que eu tinha envelhecido mais de 10 anos, as várias noites sem dormir tinham acabado comigo, a minha aparência não era mais tão saudável. Onde eu iria parar desse jeito? Se eu continuar desse jeito, com certeza não ia ser feliz nunca, estava acabando com a minha vida.