Traída por todos, amada por quatro.

POV da Millie Ano novo, nova eu. Esse é o lema que tento seguir enquanto me olho no espelho. É de manhã cedo, por volta das 6 horas, e estou pronta para a escola. Estou vestida com shorts jeans comuns e uma camiseta rosa bebê simples. Isso realça o tom bronzeado da minha pele e eu adoro. Não uso cores vibrantes há muito tempo, mas este ano será diferente. Estou voltando ao meu eu normal. Meu cabelo loiro claro e comprido está preso em duas tranças francesas, algo que aprendi a fazer durante o verão entediante. Digo entediante porque é chato pra caramba quando você não tem amigos e teve que trabalhar o verão todo. Apliquei uma maquiagem leve, um pouco de iluminador nas maçãs do rosto, rímel e um pouco de gloss labial. Fiz algumas poses no espelho tentando me animar. Vamos encarar, estou bonita. Pegando minha mochila, desci correndo as escadas. Meu pai e meu irmãozinho estão sentados à mesa tomando café da manhã. Papai está lendo o jornal e bebendo seu café. Eu sou a cara do meu pai, mesmo cabelo loiro claro e olhos verdes claros. Meu irmãozinho irritante é uma mistura perfeita dos nossos pais, com cabelo castanho-avermelhado escuro e os mesmos olhos verdes. "Bom dia, querida." Mamãe cantarola do balcão na cozinha. "Bom dia, mamãe." Eu disse a ela enquanto me sentava em uma cadeira no balcão. Minha mãe desliza um prato de bacon e ovos na minha direção, e eu sorrio radiante para ela. Minha mãe é tão doce. Sempre cuidando de nós. Seu cabelo castanho escuro está preso em um coque bagunçado no topo da cabeça. Ela ainda está de pijama, já que não trabalha. Papai ganha o suficiente para nos sustentar, sendo engenheiro de projetos. "Você está animada para o seu primeiro dia de aula?" Ela me pergunta, seus olhos castanhos quentes brilhando com seu sorriso. Engolo em seco. Mamãe não faz ideia do que aconteceu no ano passado. Tudo o que ela sabe é que James e eu terminamos. Eu tinha que contar algo a ela sobre por que eu estava deprimida. Felizmente, ela não insistiu no assunto. Ela me disse apenas que estaria sempre aqui se eu precisasse conversar. Sinceramente, eu gostaria de poder ter feito isso. Eu estava com vergonha demais para contar a alguém. Além disso, consegui superar tudo sozinha. "Com certeza estou. Este ano tenho todas as aulas avançadas e vou começar a preencher inscrições para a faculdade", eu digo a ela. Mamãe revirou os olhos para mim. "Sempre muito trabalho e pouca diversão, assim como seu pai", ela brinca. "Isso não é uma coisa r**m, querida", papai diz sem tirar os olhos do jornal. Minha mãe defende a ideia de que 'as crianças devem ser crianças'. Ela acredita que eu deveria sair escondida, desrespeitar o toque de recolher, beber, todas essas coisas. Mesmo antes de me tornar uma pária social, eu não estava interessada em nada disso. Eu gostava de sair com meus amigos, não me entenda m*l, mas também estava focada nos estudos. Entrar em uma boa faculdade é muito importante para mim, pois quero ser bióloga marinha. Meus pais têm condições de pagar pela minha faculdade, então, felizmente, não preciso me preocupar com bolsas de estudo, mas tenho que me preocupar em ser aceita. Também gostaria de ficar perto de casa. Apesar do que aconteceu comigo no ano passado, ainda quero estar próxima da minha família. "Acho que deveríamos perguntar se Caleb está animado", digo enquanto me viro na cadeira para olhar meu irmãozinho, que revira os olhos. "É o meu segundo ano, não tem nada para se animar", resmunga ele. "Mas é nesse ano que você finalmente entra para o time titularde futebol americano. Você treinou o verão todo", eu digo fazendo bico. Caleb revira os olhos e olha para mim. "Vou ser o melhor jogador do time titular", diz com total arrogância. Estreito os olhos e sorrio. "Isso mesmo, garoto", digo orgulhosa. Caleb ri e balança a cabeça. Nesse momento, ouvimos uma buzina alta de carro lá fora. Meu irmãozinho levanta rapidamente e pega sua mochila. “Esse é o meu transporte. Até mais tarde", ele diz ao sair da sala. "Por que você não leva sua irmã para a escola também?" Papai chama por ele. "Você quer vir conosco, Mil?" Caleb pergunta. Ele sabia que eu ia dizer não. Caleb tem sido um refúgio seguro para mim durante tudo isso. Ele é o único que não se importa com o bullying. Quero dizer, ele fica realmente bravo, mas não se importa em ser visto comigo. Seus amigos se importam, e eu sei disso, então sempre recuso. Caleb nunca se importou com nada além de futebol. Ele é o único na escola e nesta casa que sabe a verdade. Caleb ficou furioso e se envolveu em algumas brigas no ano passado por minha causa. É bom que ele seja um garoto grande de 14 anos, ainda maior agora. Ele sempre me protegeu e eu apreciava isso. Eu gostava mais ainda do fato de que ele nunca me deixou almoçar sozinha. "Não, estou bem. Gosto de caminhar", digo com um sorriso. "Obrigada mesmo assim." Caleb assente. "Ok, nos vemos no almoço então?", ele pergunta. "Sim", digo enquanto me viro e enfio um pedaço de bacon na boca. Depois de terminar o café da manhã, tento ajudar minha mãe com a louça, mas ela recusa. Beijo meu pai no topo da cabeça e abraço minha mãe antes de sair pela porta. Coloco meus AirPods nos ouvidos, e passo pelas músicas até encontrar algo que goste. Há um pouco de animação em meus passos. Hoje vai ser um dia bom. Todo mundo já me esqueceu e esqueceu o ano passado. Certo? Acho que devo explicar o que aconteceu comigo no ano passado. Não foi nada muito grande, mas foi difícil para mim. Minha vida inteira virou de cabeça para baixo. Foi uma mudança de vida. Vanessa era minha melhor amiga desde que estávamos na pré-escola. Éramos inseparáveis. Passávamos todos os dias juntas. Conforme fomos crescendo, nossos interesses mudaram um pouco. Mas ainda arranjávamos tempo uma para a outra todos os dias. Entre meu estudo extra e a torcida de Vanessa, fazíamos isso funcionar. Tínhamos noites de cinema e almoçávamos juntas todos os dias, apesar do claro desprezo de seus novos amigos por mim. Então, no início do nosso segundo ano, Vanessa me fez ir a uma festa com ela. Foi a minha primeira festa e Vanessa me vestiu e fez minha maquiagem. Tenho que admitir que nunca estive tão bonita. Quando chegamos à festa, Vanessa me abandonou quase imediatamente para ficar com seu caso mais recente. Eu vaguei para uma área isolada com um copo de água que fingia ser álcool. Foi quando conheci o James. Ele também tinha saído para se afastar do barulho alto. Acabamos passando várias horas conversando e rindo. Daí em diante, começamos a namorar. James me buscava todas as manhãs em seu carro chique, caminhava comigo até a sala de aula, segurava minha mão. Era tão bom. Eu ia a todos os jogos de futebol e basquete dele. Saíamos em encontros, tudo isso. Era muito doce, honestamente. Costumava pensar que ele era meu príncipe encantado. Até o início do ano passado. No primeiro mês, meu mundo desabou completamente. Depois de ir a uma festa que eu não queria, com o James, perdi minha virgindade. Ele me levou para um quarto lá em cima e finalmente, depois de um ano de namoro, permiti que ele tirasse minha virgindade. Algo que ainda me arrependo. Levou apenas alguns segundos para ele terminar comigo. Literalmente, eu ainda estava nua na cama quando ele se vestiu e disse que acabou. Ele finalmente conseguiu o que queria e não precisava mais de mim. Pelo menos foi o que ele disse. Na época, chorei muito por causa disso. Saí correndo da festa e fui para a minha casa. Por algumas semanas após isso, Vanessa me consolou. Então, um dia, quando cheguei à escola, o clima havia mudado completamente. As pessoas olhavam para mim cochichando, mas eu não fazia ideia do que estava acontecendo. Quando cheguei ao meu armário, Vanessa estava lá me esperando com outras três líderes de torcida. Ela fez um grande escândalo para toda a escola. Vanessa admitiu que tinha dormido com James durante quase todo o nosso relacionamento. Ela contou a todos como eu o tinha roubado dela no começo e que ele queria terminar comigo há meses, mas eu tornava isso impossível. Aparentemente, ele terminou comigo várias vezes e todas as vezes eu implorei para que ele ficasse e ele cedeu. Foi chocante para mim ouvir tudo isso, considerando que eram todas mentiras. Vanessa também me disse que nossa amizade era uma completa mentira. Ela disse que só sentia pena de mim e que eu era um caso de caridade para ela. Depois, eu roubei o homem dela e ela só continuou sendo minha amiga para se vingar de mim. Meu mundo virou de cabeça para baixo. Eu estava tão confusa com tudo. Honestamente, Vanessa fingir ser minha amiga doeu mais do que o término. Depois disso, a escola inteira se voltou contra mim. Não é que eu fosse importante de qualquer maneira. Na verdade, só fui realmente notada depois desse pequeno incidente. E foi um show de horrores. Todos os dias alguém escrevia na minha mochila a palavra “v***a” ou “prostituta” ou qualquer outra coisa que conseguissem inventar. As meninas me empurravam nos armários, me provocavam, jogavam lixo em mim e até me envolvi em algumas brigas. Também descobri que James contou a todos que tínhamos feito sexo. Os rumores se espalharam e, se as garotas não estavam me perseguindo, os garotos faziam comentários sobre mim. Dormir com aquele i****a foi a pior coisa que já fiz. Da próxima vez que dormir com alguém, será com alguém que saiba guardar segredo. No final do ano passado, eu só usava preto e moletons. Qualquer coisa para me esconder. Você pensaria que ao longo dos meses o bullying diminuiria, mas nunca aconteceu. A única coisa que mudou foi a quantidade de pessoas que me intimidavam. A maioria da escola já tinha superado "minha" pequena façanha. Mas as líderes de torcida e o resto do grupo popular nunca deixaram de lado.